“Quando Jesus nos cura, restitui-nos a dignidade”
[Renata Neli, 19/03/2023 – Redação CatolicaWeb] Neste domingo, o Papa Francisco fez sua tradicional catequese na Praça São Pedro sobre o Evangelho de João, em especial a linda forma como o evangelista narra o milagre de Jesus sobre o cego de nascença.
O Pontífice inicia seu discurso observando a forma com que muitos não acreditam no milagre, tampouco aceitam a verdade, procurando saídas e fechados aos sinais:
“Em primeiro lugar, os discípulos de Jesus, que acabam em tagarelice diante do cego de nascença: perguntam-se se a culpa é dos pais ou deles próprios (cf. v. 2). Eles estão procurando um culpado; e muitas vezes caímos nisso que é tão conveniente: procurar um culpado, em vez de fazer perguntas desafiadoras na vida. E hoje podemos dizer: o que significa para nós a presença desta pessoa, o que ela nos pede? Então, após a cura, as reações aumentam. A primeira é a dos vizinhos, que se mostram céticos: ‘Este homem sempre foi cego: não é possível que veja agora, não pode ser ele!, é outro’: ceticismo (cf. vv. 8-9) . Para eles é inaceitável, é melhor deixar tudo como estava antes (cf. v. 16) e não entrar neste problema. Têm medo, temem as autoridades religiosas e não se pronunciam (cf. vv. 18-21). Em todas essas reações, surgem corações fechados diante do sinal de Jesus, por diversos motivos: porque procuram um culpado, porque não sabem se surpreender, porque não querem mudar, porque são bloqueados pelo medo. E muitas situações se parecem com isso hoje. Diante de algo que é realmente uma mensagem de testemunho de uma pessoa, é uma mensagem de Jesus, caímos nisto: procuramos outra explicação, não queremos mudar, procuramos uma saída mais elegante do que aceitando a verdade.”
Aquele que estava à margem e aos preconceitos, quando curado, não sente vergonha e nem medo de testemunhar o milagre. Assim nos diz o Papa:
“O único que reage bem é o cego: feliz por ver, testemunha do modo mais simples o que lhe aconteceu: ‘Eu era cego e agora vejo’ (v. 25). Ele diz a verdade. Antes, era obrigado a mendigar para viver e sofria os preconceitos do povo: ‘era pobre e cego de nascença, tinha de sofrer, tinha de pagar pelos seus pecados ou pelos dos seus antepassados’. Agora, livre de corpo e espírito, dá testemunho de Jesus: nada inventa e nada esconde. ‘Eu era cego e agora vejo.’ Não tem medo do que os outros vão dizer: já conheceu o gosto amargo da marginalização, ao longo da vida, já sentiu a indiferença e o desprezo dos transeuntes, daqueles que o consideravam um desperdício da sociedade, útil no máximo pela piedade de alguma esmola. Agora, curado, já não teme aquelas atitudes de desprezo, porque Jesus lhe deu plena dignidade. E isto é claro, acontece sempre: quando Jesus nos cura, restitui-nos a dignidade, a dignidade plena da cura de Jesus, uma dignidade que vem do fundo do coração, que toma conta de toda a vida; e no sábado, diante de todos, libertou-o e deu-lhe a visão sem lhe pedir nada, nem sequer um obrigado, e ele dá testemunho disso. Esta é a dignidade de uma pessoa nobre, de uma pessoa que sabe que está curada e se recupera, renasce; aquele renascimento para a vida, do qual foi falado hoje em ‘À Sua Imagem’: renascer.”
Nosso Pontífice encerra questionando nosso posicionamento: somos os de corações mornos que ficam buscando justificativas e espalhando coisas negativas, ou aqueles que aceitam as limitações e diferenças e nos aproximamos com amor para ser testemunhas da Palavra e amor de Deus?
“Irmãos, irmãs, com todos esses personagens o Evangelho de hoje também nos coloca no meio da cena, para que nos perguntemos: que posição tomamos, o que teríamos dito então? E acima de tudo, o que estamos fazendo hoje? Como o cego, podemos ver o bem e ser gratos pelos presentes que recebemos? Eu me pergunto: como está minha dignidade? Como está sua dignidade? Damos testemunho de Jesus ou espalhamos críticas e suspeitas? Somos livres diante de preconceitos ou nos associamos a quem espalha negatividade e fofoca? Somos felizes em dizer que Jesus nos ama, que nos salva ou, como os pais do cego de nascença, nos deixamos enjaular pelo medo do que vão pensar? Os mornos de coração que não aceitam a verdade e não têm coragem de dizer: ‘Não, é isso’. E, novamente, como acolhemos as dificuldades e a indiferença dos outros? Como acolhemos pessoas que têm tantas limitações na vida? Seja físico, como este homem cego; são sociais, como os mendigos que encontramos na rua? E acolhemos isso como uma maldição ou como uma oportunidade de nos aproximarmos deles com amor?”
“Irmãos e irmãs peçamos hoje a graça de nos maravilharmos todos os dias com os dons de Deus e de ver as várias circunstâncias da vida, mesmo as mais difíceis de aceitar, como oportunidades para fazer o bem, como Jesus fez com o cego. Que Nossa Senhora nos ajude nisso, juntamente com São José, homem justo e fiel.”
Depois do Ângelus
Depois da oração mariana do Ângelus, nosso Pontífice demonstrou sua solidariedade e orações ao povo equatoriano, que sofre por conta do terremoto do ultimo dia 18.
“Ontem, no Equador, um terremoto causou mortos, feridos e grandes danos. Estou próximo do povo equatoriano e garanto-vos a minha oração pelos mortos e por todos os que sofrem.”
O Papa saudou ainda a todos os presentes de diversas nações, peregrinos, associações, grupos, comunidades e, em especial, aos participantes da Maratona de Roma:
“É com prazer que saúdo também os participantes na Maratona de Roma! Congratulo-vos porque, por iniciativa da ‘Athletica Vaticana’, estais a fazer deste importante evento desportivo uma ocasião de solidariedade a favor dos mais pobres.”
O Pontífice saudou também a todos os pais ao lembrar São José, celebrado neste Domingo pela Igreja. E, mais uma vez, nos alertou a rezar pelo povo ucraniano:
“E hoje desejamos um feliz aniversário a todos os papais! Que encontrem em São José o modelo, o apoio, o conforto para viver bem a paternidade.”
“Irmãos e irmãs, não nos esqueçamos de rezar pelo martirizado povo ucraniano que continua sofrendo por crimes de guerra.”