Todas as coisas, a princípio, sofrem com seu ofício.
Calma, não estou blasfemando no título deste post. Para isto, vamos do começo.
Eu estava para iniciar a oração do Santo Terço, quando, ao separar uma conta da outra, o cordão que une a quinta (ou primeira) dezena à primeira (ou quinta) arrebentou perdendo o seu formato cíclico.
Como é natural, num primeiro fiquei triste ao ver o que ocorreu, mas depois pensei “que bom que ele quebrou!” e afirmo que isto é algo bom!
Se analisar o estado em que se encontra o terço, ficará nítido que o cordão e as contas foram se desgastando com o tempo e uso e se houve desgaste pelo uso, é sinal que eu andei rezando com ele.
Isto é muito bom!
Da mesma maneira podemos ver uma bíblia que está “caindo aos pedaços”, pois, salvo má conservação, é sinal de que alguém andou lendo e não a deixou na estante pegando pó.
Os objetos sofrem deterioração a cada vez que são utilizados e isto não é problema, pois foram feitos exatamente para isto. Então este terço ao se romper, me indicou uma feliz notícia: Eu estou executando uma rotina de oração.
Faz dois anos e meio que tenho rezado pelo menos um Terço por dia e, em alguns dias, o Rosário e, com a graça de Deus, vou continuar até o fim da vida neste propósito de diariamente recitar esta oração.
Mas não são apenas objetos que sofrem pelo ofício que lhes são devidos. Nós também, por sermos instrumentos nas mãos de Deus, sofremos um certo desgaste no serviço ao qual somos chamados seja pelo tempo ou pelo trabalho realizado em si.
Então se há desgaste físico e este não é por má utilização ou execução, então houve real uso e finalidade na tarefa a qual foi sujeito. Da mesma maneira que um terço “se consome” nas mãos de quem reza, nós nos consumimos nas mãos de Deus que realiza aquilo que Lhe é agradável.
Tudo que é físico e temporal irá perecer até que venha o “definitivo”. Não faço ideia do que seja este “definitivo”, mas sei que, seja no dia da nossa morte ou pela Segunda Vinda do Jesus, é muito melhor do que tudo que experimentamos até hoje.
Enquanto isto não ocorre, usemos e abusemos dos instrumentos que nos aproximam de Deus. A bíblia foi feita para ser lida e não para acumular pó. O terço não é somente para colocar no pescoço, usar como adorno ou (pior ainda) como superstição, é para ser rezado meditando cada momento da vida de Jesus. Os objetos litúrgicos também devem ser utilizados para seus respectivos fins e não guardados como tesouros por conta de seu valor material.
Precisamos entender que todas estas coisas são meios que nos aproximam de Deus, mas que não contém Deus, por mais abençoado que seja tal objeto! As únicas coisas materiais que contém Deus são a Eucaristia, porque assim Ele quis e isto só se consuma quando o sacerdote se coloca nas mãos do Senhor e consagra o pão e o vinho pela ação do Espírito Santo, e nós mesmos, porque somos Templo do Espírito Santo, ainda que pecadores.
Deste modo, tudo que nos ajuda a rezar é um mero objeto ou meio para nos apresentar Deus ou manifestá-Lo em nossas vidas e, por isso, não tenhamos medo de nos colocar a serviço Dele ou de utilizar das coisas para anunciar Sua Palavra. Tenhamos plena consciência de que a santidade e santificação de tudo provém do Senhor e que tudo que está preso ao nosso mundo material é passageiro.
Que utilizemos de maneira sábia os objetos que nos aproximam de Deus. Que, ao permitir a Ação do Espírito Santo em nossas vidas, possamos ser instrumentos nas mãos de Deus, para que Ele faça o que for de Seu agrado. Que possamos intensificar nossa vida de oração através dos terços, bíblias, livros, objetos litúrgicos, sacramentais e tantas outros que nos ajudam a rezar.
De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti
A foto que escolhi: Que utilizemos de maneira consciente os objetos e que possamos nos aproximar de Deus através deles.