A prisão a qual submetemos o tempo.
“Sem tempo, irmão!”.
Quantas vezes ouvimos ou dissemos isso? Claro que, na maioria das vezes, quando falamos isto estamos “sem tempo”, o que quer dizer que estamos muito ocupados, dando os “corres” da vida agitada a qual estamos impostos.
Também há aquela pequena parcela de “sem tempo” apenas como uma desculpa para não permanecer no local e, independente de quem esteja querendo nosso “tempo”, a ideia de ficar parado ouvindo ou interagindo com outra pessoa, por vezes, nos traz a ideia de “perda de tempo”.
O “nosso tempo” (?) é muito precioso para ser “perdido” (??), afinal uma das máximas do capitalismo é que “tempo é dinheiro”. Podemos dizer que “sem tempo, irmão!” é quase como dizer “não estou produzindo, irmão!”, seja lá o que for este “produzindo”.
Pode ser que seja algum trabalho remunerado que pague por tarefa feita, por hora, entrega, projeto elaborado, peça artesanal ou até o caso de descanso para produzir mais depois. Assim, se estamos “sem tempo”, então estamos sempre com a necessidade de estar produzindo ou nos restabelecendo para produzir mais, porque estamos sendo exigidos, por nós mesmos ou por alguém, além do que conseguimos executar.
“Nosso tempo” está preso à nossa vontade própria, alguém ou algo.
Além de aprisionar o “tempo” num mero relógio de produtividade, alegamos que há falta do mesmo, como se o “instrumento de medida” usado como referência fosse muito menor do que aquilo que vamos medir. Se você ouviu falar em escala ou proporções, sabe que para resolver isto é uma questão de ajuste, por exemplo, para medir o tamanho de uma mesa é conveniente utilizar as medidas em centímetros ou metros, mas se você utilizar medidas em micrometros ou angstroms não fará sentido algum, mesmo que a medição seja feita cuidadosamente.
Isso gera uma necessidade de ajustar nossa vontade, prazos que nos são determinados e necessidades para que o “tempo” seja de acordo com a nossa produtividade.
Agora, é necessário ser sempre produtivo? Mais do que questionar se é “necessário” e “sempre” é perguntar o que é ser produtivo?
As respostas aqui são bem variadas. Há quem diga que ser produtivo é fazer muitas tarefas, outros que é executar a rotina diária sem adiar compromissos, que é descansar num domingo. São maneiras de observar esta necessidade, mas em todas está implícito o “sempre produtivo”.
E quem consegue ser sempre? No máximo somos “de vez em quando produtivos”.
Entretanto, quando fui à missa domingo das 8 da manhã, eu cheguei às 7 e 30 e fiquei na Capela do Sacrário até a Celebração começar. Nessa meia hora, eu me senti mais do que produtivo. Senti que ali, não havia necessidade de ser produtivo!
Estar ali na Presença do Senhor era mais do que produzir qualquer bem, intelecto, coisa ou trabalho. Estar ali era ver o “tempo” ser o que ele de fato é: uma oportunidade de estar com Senhor.
E isto não é porque estava dentro da Capela, dentro da Igreja. Se somos Templo do Espírito Santo, temos um Sacrário dentro de nós que O abriga e isto sem contar o fato de Comungarmos o Corpo e Sangue de Jesus.
Ora, então “sem tempo, irmão!” é “não quero estar com o Senhor”, pois atender nossa própria vontade, prazos e necessidades é produzir uma espécie de “ídolo” que toma o lugar de Deus em nosso Sacrário Interior.
Não estou dizendo que devemos ser irresponsáveis com nossos afazeres. Pelo contrário! Nada nos impede de invocar a Presença de Deus em todas as nossas atividades! E mesmo que sejamos cobrados pela agitação e imediatismo das relações humanas, estaremos “com tempo” integralmente junto do Senhor e Ele vai nos ajudar e capacitar para que estas cobranças sejam entregues, sem nos maltratar com noites mal dormidas, excessos de alimentos que nos mantenham acordados ou sem horário de almoço.
Vamos descobrir que “ser produtivo” é, na realidade, estar sempre junto de Deus, pois Nele não há necessidade de “ser produtivo”, basta estarmos com Ele e tudo (TUDO!) mais nos será dado por acréscimo.
Que tenhamos a consciência de querer estar com Ele. Que estando em Sua Presença, possamos adorá-Lo com nossas atitudes. Que tenhamos a inocente confiança que Ele sempre irá nos ajudar e não deixará faltar nada que realmente necessitarmos. Que “tenhamos tempo” para Deus e para os que sofrem.
De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti