Episódio 2: Devemos ser cristãos católicos por Cristo, com Cristo e em Cristo!
Quando era criança, eu aprendi que “ser cristão” era ir às missas aos Domingos, frequentar a catequese para fazer a Primeira Comunhão, depois seguir para a Crisma e ir participando das atividades da Igreja, por exemplo, festas, retiros, pastorais, tarde de louvor, novenas e tantas outras coisas que nos caracteriza como uma pessoa que frequenta a Igreja.
De algum modo, “ser cristão”, sob este olhar, significa pertencer a um grupo que se reúne com alguma periodicidade para realizar ritos e socializar de alguma maneira.
Contudo, em algum momento da minha vida eu aprendi que “ser cristão” é “ser um Cristo para o outro”. Sob este outro olhar, “ser cristão” é agir como Cristo age e tomar decisões de maneira que, naquela atitude, o outro veja Cristo.
A princípio, eu não vejo diferença entre esses dois olhares, pois Jesus cumpria ritos, socializa, trabalhava, fazia suas orações públicas e de modo particular, mas Ele também teve (logicamente) as atitudes de Cristo, isto é, Ele agiu como O Ungido, O Messias e transparecia isso aos demais.
A diferença que existe é que é possível “ser cristão sem Cristo”. Uma pessoa pode ser batizada, frequentar a Igreja todos os dias, rezar, participar dos eventos, das festas, novenas e não “ser um Cristo” para o outro. O que quero dizer, sendo mais direto, é que uma pessoa com estas características pode assinalar num formulário, o qual lhe é questionada sua religião, a opção cristã católica.
Não é difícil, infelizmente, encontrar pessoas que se encaixam neste “rótulo” e muitas vezes distorcem totalmente o significado de “ser cristão”. Ouvimos todos os dias que a misericórdia do Senhor é infinita e não nos solidarizamos com o sofrimento das pessoas que vivem ao nosso redor, por exemplo.
Da mesma maneira podemos ter o contrário, uma pessoa “não ser cristã e ter Cristo”, pois as suas atitudes transparecem Cristo para os outros e não é raro, infelizmente, ver os “cristãos” maldizendo essas pessoas.
O que reforça esse meu raciocínio é um trecho do Evangelho e outro dos Atos dos Apóstolos:
“João disse-lhe: ‘Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em Teu nome, e lho proibimos.’. Jesus, porém, disse-lhe: ‘Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós, é a nosso favor.’” (Marcos 9, 38 – 40)
“Apenas comecei a falar, quando desceu o Espírito Santo sobre eles, como no princípio descera também sobre nós. Lembrei-me então das palavras do Senhor, quando disse: ‘João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo.’ Pois, se Deus lhes deu a mesma graça que a nós, que cremos no Senhor Jesus Cristo, com que direito me oporia eu a Deus?” (Atos dos Apóstolos 11, 15 – 17)
Hoje vemos muitos cristãos agindo como João neste trecho do e Evangelho e poucos agindo como Pedro no trecho dos Atos dos Apóstolos. Jesus não veio ao mundo somente para os doze apóstolos, Ele veio para todos os homens e mulheres de boa vontade. Se contextualizarmos mais ainda o trecho dos Atos, o Espírito Santo desceu sobre os pagãos da mesma maneira que no Cenáculo em Jerusalém. Isso apenas mostra que o Senhor sabe quem quer recebê-Lo e quem está de fato a Seu favor, Ele sabe quem está aberto a ação do Seu Espírito e Ele mesmo impulsiona essas pessoas a fazer o bem que eu deveria fazer e não faço.
Vejo que se não tomarmos cuidado, vamos afastar as pessoas ao invés de levá-las para Deus. Acredito que podemos cair no erro da vaidade e encher nosso coração de soberba por “conhecer Jesus” e acabar impedindo que pessoas fora da Igreja O conheça, pois não é raro ouvir que muitos não vão à Igreja por causa das pessoas.
Estaríamos prontos para dizer que “devem ir à Igreja por Jesus e não por causa das pessoas”, e isso é bem verdade, mas o que eu como membro da Igreja estou fazendo para acolher? Eu estou realmente a favor do Senhor em trazer as pessoas ou prefiro condenar sem conhecê-las? Estou sendo apenas um “rótulo”? Essa vaidade pode corroer nosso coração.
É como diz São Paulo na Carta aos Romanos e um conhecido canto penitencial:
“Então, o que é bom tornou-se causa de morte para mim? Decerto que não. Foi o pecado que, para se mostrar realmente pecado, acarretou para mim a morte por meio do que é bom, a fim de que, pelo mandamento, o pecado se fizesse excessivamente pecaminoso. Sabemos, de fato, que a Lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado. Não entendo, absolutamente, o que faço, pois não faço o que quero; faço o que aborreço. E, se faço o que não quero, reconheço que a Lei é boa. Mas, então, não sou eu que o faço, mas o pecado que em mim habita. Eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita o bem, porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que faço, mas sim o pecado que em mim habita. Encontro, pois, em mim esta Lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal.” (Romanos 7, 13 – 21)
“Quem não Te aceita, quem Te rejeita, pode não crer por ver cristãos que vivem mal.“ (Pelos pecados, erros passados; Letra de D. Carlos Alberto Navarro e música da Ir. Miria T. Kolling)
O Senhor sabe quem é “rótulo” e quem é Sua imagem e semelhança, porque só Dele provém o Bem e o mal que habita em nós é nossa cruz diária.
Que no dia de hoje eu seja menos “rótulo” e mais imagem e semelhança Dele. Que eu seja menos “João” que proíbe e aponta regras e seja mais “Pedro” que presencia a ação de Deus. Que meu viver seja motivo de conversão para as pessoas ao invés de afastá-las da Igreja. Que eu saiba dizer o valor das normas e da riqueza que é pertencer a Igreja, mas que antes de tudo isso vem o maior mandamento “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda tua Alma e de todo o teu espírito.” e “Amarás teu próximo como a ti mesmo.”. Que eu seja cristão e seja como Cristo para os outros.
De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti