Nossa relação com o Senhor não pode ser conveniente.
Hoje em dia, é comum termos relações superficiais e frias com outras pessoas. É claro que isto não é novidade na história da humanidade, pois a conveniência sempre ditou regras para uma convivência politicamente correta ou aceitável.
Pense, por exemplo, na antiguidade, onde povos menores se aliaram a outros maiores somente pela sua sobrevivência e não por uma real empatia ao seu próximo. Podemos observar as relações entre povos dominadores e seus dominados, pois, na maioria das vezes, são claras e manifestas as indignações dos que estão subjugados.
Conveniência é sempre um perigo em qualquer tipo de relação porque se trata de algo “volátil”. Tomemos como exemplo uma eleição. Nós já cansamos de ver alianças políticas que claramente são populistas (no pior sentido que isto possa significar) e eleitoreiras, isto é, visando apenas os votos que determinado partido ou coligação possui.
Quantas vezes vimos adversários de primeiro turno se ofenderem e denegrirem a imagem de seus concorrentes e no segundo turno, ao não conseguirem estar na disputa, exaltar e se aliarem como se fosse amigos íntimos de longa data.
Hipocrisia em estado puro.
E o que isto tem a ver com a Fé? Bom, nossa relação com Deus, de maneira simplificada e na minha opinião, pode se dar de duas maneiras e de modos excludentes:
Ou é de conveniência ou não.
Podemos nos aproximar de Deus pelo que Ele pode fazer por nós ou pelo o que Ele é de fato. É fácil nos aproximar de Dele pelo que Ele tem a nos oferecer, pois quem não quer uma vida livre de sofrimentos ou cura de alguma doença? Quem não quer ter êxito em seus negócios ou estudos? Quem não quer estar perto de pessoas boas e isto se aplica a Deus também.
A “má notícia” para quem pensa assim é que o próprio Senhor nos ensina sobre isto:
“Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la.” (Mateus 16, 24-25)
Acompanhar o Senhor significa carregar a nossa própria cruz, é enfrentar as nossas dificuldades com os talentos que Ele nos emprestou e nós teremos que prestar contas destes talentos quando estivermos diante Dele!
Contudo, isto não contradiz nossos pedidos e preces que dirigimos a Ele, desde que nos aproximemos Dele conscientes de que nossa Salvação consiste em crer Nele e na árdua tarefa de carregar nossa cruz e anunciar o Seu Santo Nome. Podemos pedir e nos aproximar do Trono de Graça, como diz São Paulo, desde que sejamos humildes e mansos de coração, pois Ele mesmo nos diz:
“Por aquele tempo, Jesus pronunciou estas palavras: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, eu te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo. Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve”.” (Mateus 11, 25-30)
Se nos pesa nossa cruz, é porque, talvez, estejamos olhando mais para as conveniências de seguir ao Senhor do que por estar unido a Ele verdadeiramente. Se queremos conhecer a Deus, devemos olhar para Jesus e nos relacionar com Ele, isto é, aprender com Ele e sermos mansos e humildes como Ele.
O grande segredo desta relação é a humildade e a mansidão, pois, sem isto, nada poderemos obter de Deus. Sem isto, nossa relação é conveniente e seremos iguais aos fariseus daquele tempo que possuíam inveja dos sinais e do modo que Jesus ensinava.
Que nossa relação com o Senhor seja verdadeira. Que elevemos nosso coração a Ele com toda humildade e mansidão. Que saibamos carregar nossas cruzes e confiemos que ela nos foi dada para nossa santificação. Que possamos nos aproximar Dele confiantes de que teremos nossas orações e preces atendidas, mas que, antes de tudo, vem o respeito e adoração a Aquele que tudo criou e tudo pertence.
De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti
A foto que escolhi: Que nossa oração seja humilde e cheia de mansidão, de modo a nos aproximar do Senhor pelo que Ele É e não pelo que Ele pode nos oferecer.