Nosso olhar deve contemplar o tempo certo.

Perceber o “tempo presente” é sempre um grande desafio. O “tempo passado” era um “tempo presente” como o de agora e de alguma maneira nosso cérebro compreende que “ele já se foi” e está no que chamamos de “passado” e registrado em nossa memória.

Não modificamos memórias e, tão pouco, o “tempo passado”.

O que resta, então, é o “tempo presente” que vai se tornando “tempo passado” em questão de instantes. Se não temos como intervir no “tempo passado” o “tempo presente” é o alvo de nossas ações e, como temos uma memória, algumas ações neste “agora” são pautadas por estas lembranças.

Boas ou ruins e felizmente ou infelizmente em alguns casos, são estas ações que movem nossa vida para algum lugar. Deste modo, somos movidos por ações que procuram nos privar de erros ou sensações desagradáveis com base nessa memória e ações do “tempo passado”.

O grande problema é que, talvez, não tenhamos clareza de nossas ações, pois estamos sempre tentando evitar eventuais sofrimentos que, em alguns casos, são inevitáveis. Não sabemos discernir sofrimentos e dores, somos condicionados a evitar tais situações e queremos ter controle sobre todos atos que nos rodeiam.

Procuramos evitar ao máximo sofrimentos de todos os tipos e, se nossa vida fosse permeada por “tempo passado” e “tempo presente”, com certeza estaríamos sob controle de tudo que nos acontece.

Mas não é assim que funciona. Existe o “tempo futuro” que logo se apresenta como “tempo presente” e, em alguns casos, ele traz consequências que são óbvias e outras não tão óbvias assim. Por exemplo, se eu não vestir roupas que me aqueçam num dia frio (ação no “tempo presente”), mesmo sabendo que eu já fiquei resfriado em algum momento da minha vida por conta disto (ação do “tempo passado”), eu corro o risco de ficar doente (ação no “tempo futuro”). No entanto, observe que “correr o risco” pode implicar em dois cenários (de maneira bem simples): Ou fico doente ou não. Ou seja, a ação do “tempo futuro” é, geralmente, condicional.

Se eu me agasalho bem, pode ser que eu evite ficar resfriado e, por outro lado, se não me agasalho, pode ser que fique resfriado, mas em nenhum dos casos há 100% de garantia de que não ficarei resfriado.

O “tempo futuro” é extremamente instável.

Enquanto o “tempo passado” é estável, o “tempo futuro” possui uma característica quase caótica e o responsável por organizar (bem ou mal) este caos é o “tempo presente”, pois quando o “tempo futuro” se torna “tempo presente” nossa ação o transforma em “tempo passado”.

Então nossas ações transformam o que é instável em algo estável, mas nossas ações não garantem a estabilidade que gostaríamos.

Por vezes, nossas ações, por melhores que tenham sido, trouxeram situações estáveis inesperadas e isto costuma nos machucar.

A pergunta então é: Como modificamos o pensamento a fim de não nos abater quando vier as próximas situações estáveis inesperadas?

Talvez tenhamos que olhar para o “Tempo Futuro”:

“Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. Pois a criação foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia, com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Pois sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia. Não só ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, gememos em nós mesmos, aguardando a adoção, a redenção do nosso corpo. Porque pela esperança é que fomos salvos. Ora, ver o objeto da esperança já não é esperança; porque o que alguém vê, como é que ainda o espera? Nós, que esperamos o que não vemos, é em paciência que o aguardamos. Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus. Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios. Os que ele distinguiu de antemão, também os predes­tinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos. E aos que predestinou, também os chamou; e aos que chamou, também os justificou; e aos que justificou, também os glorificou. Que diremos depois disso? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus, que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à mão direita de Deus, é quem intercede por nós! Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada?* 36.Realmente, está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro; somos tratados como gado destinado ao matadouro (Sl 43,23). Mas, em todas essas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Romanos 8, 18 – 39)

Nossas ações no “tempo presente” não podem ser pautadas no “tempo passado” ou no “tempo futuro” e sim no “Tempo Futuro” que é o Céu! Se agirmos e suportarmos as inesperadas estabilidades que nos machucam com o olhar voltado para o Céu, estaremos sofrendo com Cristo e nos santificando de maneira gradativa, para que no derradeiro momento de nossas vidas possamos ser chamados por Ele a participar da sua Ressurreição.

Olhar o “Tempo Futuro”, pode modificar nosso olhar em relação a vida e dar graças por tudo, inclusive no sofrimento. Devemos desejar o Céu mais do que tudo, pois lá não haverá mais memória que nos machuque ou futuro incerto.

No “Tempo Futuro”, só existe Aquele que É e nós somos seus convidados se soubermos suportar os nossos “tempos”.

Que nosso desejo seja sempre o Céu. Que tenhamos a certeza de que tudo que vivemos é apenas um breve momento que logo dará lugar, com a Graça e Méritos exclusivos de Deus, à eternidade. Que não deixemos a Chama da Fé se apagar em nós, mesmo nos momentos mais terríveis que estivermos enfrentando. Que a Graça do Senhor nos baste hoje e sempre.

De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti


O tempo... - UCQ
A foto que escolhi: Que este "tempo presente" não desvie nosso olhar do "Tempo Futuro".
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