O lugar que a Sagrada Família quer habitar é nosso coração.
Finalmente chegou o Natal. Um período em que as pessoas procuram arrumar a casa, refletir sobre os acontecimentos do ano, deixar de lado algumas brigas e orgulhos e aproveitar o tempo com aqueles que são queridos.
Claro que a data comercial possui uma força descomunal e influencia nosso modo de agir e pensar algumas vezes, não há problema em presentear alguém ou enfeitar a casa ou qualquer outra coisa do tipo, desde que o centro do Natal sejam as pessoas protagonistas da Noite Feliz na pequena gruta de Belém.
Noite Feliz para nós, porém triste e escura para a Sagrada Família.
Podemos nos colocar no lugar de cada um deles, guardadas as devidas proporções é claro. Imagine Maria, na iminência do nascimento de Jesus, tendo que viajar para Belém no período do inverno junto de seu esposo José. A tradição reforça que Maria viajou sentada num jumento enquanto José percorria o trajeto andando e, como em toda viagem, havia necessidade de alimentar-se, abrigo, roupas para resistir ao frio entre outras coisas que torna este trajeto difícil de ser executado.
Sabemos que José e Maria não eram ricos e, portanto, deviam ser escassos os suprimentos e provisões para tal finalidade. Durante o dia poderia ser mais amena a sensação térmica, porém à noite deveria ser intensa e, provavelmente, os locais que serviriam de hospedagem ou abrigo também deveriam estar ocupados por conta do número de viajantes rumo a cidade de Belém.
Entretanto, o relato que temos, segundo o evangelho, é que na cidade não havia local para eles e, por serem simples e discretos, deviam ter sido ignorados por todos, pois quem se preocuparia com dois quaisquer dentre tantos que se achegavam nas pousadas.
Depois de tanto andar, sofrer com o frio e com o cansaço, José não conseguiu um lugar para que Maria pudesse ter o mínimo de conforto. Não era uma noite feliz e tampouco uma confraternização entre homens e mulheres buscando resoluções mesquinhas e rasas.
Se tal noite era cruel e indigna para qualquer pessoa, quanto mais seria para Maria e José.
De tanto buscar, José encontra ao lado da cidade uma gruta que servia de estalagem para animais e ali ele improvisa um leito para Maria enquanto procura arrumar o local para que o frio da noite seja menos agressivo.
Desprezo, cansaço, dor física, frio e abandono este é o resumo até então da noite de hoje. E neste cenário, Maria deu à luz à Luz.
Jesus nasceu numa noite fria, num lugar improvisado, desprezado pelos homens e abandonado por aqueles que poderiam dar um jeitinho para que pudessem se abrigar.
O Deus Menino recém-nascido já experimentava o que seria Sua missão nesta terra, o Nascimento do Senhor nesta terra é a imagem de Sua Paixão e Morte. Esta noite foi palco de mais um espetáculo de horror dos homens para com Deus.
Nossa sorte é que o Céu não deixou o mal se sobressair. Se tivemos a imagem da Paixão e Morte, tivemos também a imagem da Ressureição. Uma estrela brilhou, rompeu a escuridão invernal e indicou aos pastores o local onde a Salvação habitou. Estrela que também guiou os magos em seu trajeto, mostrando que a Salvação era revelada ao povo da Antiga Aliança, mas estes tão cegos pela opulência e vaidades que tinham, não souberam recebe-La. O Amor decidiu escancarar as portas da Salvação a todos os povos, ainda que esta seja estreita para nós por conta de nossos pecados.
O Céu entoou um canto que marcou este divino e discreto acontecimento:
Um anjo do Senhor apareceu aos pastores, a glória do Senhor os envolveu em luz, e eles ficaram com muito medo. O anjo, porém, disse aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo. Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”. E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste. Cantavam louvores a Deus, dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (Lucas 2, 9 – 14).
O Salvador, o Menino Jesus, o Nosso Deus e Senhor impeliu o Céu inteiro a cantar e proclamar a glória de Deus e conceder paz a aqueles que Ele tanto ama e esta é a breve imagem de sua futura glória na Ressureição!
O Natal simboliza tudo isto e nos dá um grande alerta: não podemos permitir que Graça passe despercebida por nós!
Ela se apresenta diariamente a nós, assim como Maria e José procurando um abrigo e se nosso coração estiver repleto de orgulho, vaidade, soberba, prazeres, luxurias e ego, nós vamos fechar as portas a estes pobres e humildes viajantes que trazem o Salvador. Nesta noite encerra-se o Advento que é uma maneira da Igreja nos recordar a espera do nascimento do Senhor e de Sua Segunda Vinda, mas a verdade é que este Advento é perene até que Ele venha novamente e se não recebermos Ele neste período de espera, não seremos capazes de recebe-Lo quando Ele vir de fato.
Estamos diante de tempos em que o relativismo e o prazer desmedido e promiscuo impera, estamos nos tornando cada vez mais cegos e dissimulados querendo justificar imperfeições com modas, leis, ideologias e objetos de dominação em massa e deixando de receber e arrumar a gruta do nosso coração para que Maria e José habitem e tragam Jesus como centro de nossas vidas.
Então só podemos dizer que esta noite de hoje é feliz, se nos colocarmos em nosso lugar e amar o próximo como a nós mesmos, praticamos a caridade e virtudes que transparecem a pureza do Menino Deus.
Somente assim teremos um Natal verdadeiro e estaremos esperando fielmente o Seu Advento.
Que neste Natal possamos escancarar todas as portas de nosso coração para que a Sagrada Família encontre um lugar para descansar. Que nos desapeguemos de nossas misérias e tudo que é podre e fere o Coração do Senhor. Que possamos nos unir ao coro dos anjos para cantar e proclamar que Jesus nasceu e Ele está sempre no meio de nós. Que tenhamos um santo e abençoado Natal!
De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti
A foto que escolhi: Que possamos acolher a Sagrada Família na gruta do nosso coração.