A necessidade de modificar um pensamento comum.

Chegamos ao final de mais um ano e, juntamente com a data do Natal, procuramos reorganizar e planejar nossas vidas para o ano que se inicia. Claro que toda mudança, ainda que mínima, é um esforço e nos custa a ser cumprida.

Os últimos dois anos de pandemia, mostrou-nos que, nem sempre, as coisas acontecem como idealizamos. Talvez, mesmo em “anos normais” já teríamos tal sensação, mas é fato que estes dois anos em particular nos afligiram de maneira mais contundente.

Deste modo, nossos planos e resoluções para ano que se aproxima se torna condicional. Se realizamos nossos desejos, então o ano foi bem sucedido e no caso o contrário o ano foi um fracasso. Evidentemente temos altos e baixos num ano, mas podemos supor, neste caso, que o ano bom foi aquele em que conseguimos realizar o máximo de desejos e, novamente, o contrário no cenário adverso.

Hoje eu considero este pensamento errôneo.

Condicionar sucesso ou fracasso pelas metas concluídas é um tanto perigoso em algum aspecto. Pense, por um momento, em algo inusitado que ocorreu neste ano que passou que foi benéfico e não estava em seus planos. Se era algo benéfico, como não pensamos antes? Bom, se foi inusitado é porque, de fato, não estávamos esperando que tal coisa pudesse acontecer. Infelizmente, o contrário também acontece e somos surpreendidos por uma situação ruim ou dolorosa e, novamente, como não pensamos nisto antes, pois assim estaríamos preparados para tal imprevisto.

A vida possui seus imprevistos e não estamos no controle de tudo que nos cerca, a verdade é que temos pouco controle das coisas que acontecem conosco. Não estou dizendo que não devemos ser prudentes e nos organizar para que não soframos com infortúnios ou tais imprevistos, o que estou dizendo é que, querendo ou não, seremos surpreendidos durante nossos dias.

Então qual deve ser nossa verdadeira resolução de fim ano? Qual deve ser o desejo ou meta que devemos traçar para que não condicionemos nossos “anos novos”?

No meu limitado entendimento, vejo que a verdadeira resolução é a ESPERANÇA.

A esperança é chave para que todo ano seja um bom ano!

Tomemos um exemplo que tivemos a poucos dias: Maria, quando recebeu a visita do Arcanjo Gabriel disse:

“Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?” (Lucas 1, 34).

Isso foi totalmente inusitado na vida dela. Um virgem conceber, se tornar Mãe permanecendo virgem e Imaculada desde seu nascimento até o fim de seus dias. É inesperado e contra qualquer lógica!

Contudo o Arcanjo responde:

“Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível”.” (Lucas 1, 35 – 37)

Se, para nós, tudo isto é surreal e complexo, para Deus é natural e simples, porque Ele “chama à existência as coisas que estão no nada” (Romanos 4, 17), “Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens” (I Coríntios 1 – 25). Assim foi com Santa Isabel, estéril e deu à luz João Batista (do nada chama a existência) e com Maria Virgem e Mãe (loucura para os homens).

A característica fundamental de que estas duas mulheres nos apresentam é a Esperança!

“Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbio dentre os homens.” (Lucas 1, 25).

“Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lucas 1, 38).

A Esperança é a chave para que todo “imprevisto” ou “loucura” que acontece em nossas vidas sejam para a maior Glória de Deus! Sem a Esperança e mesmo tudo correndo conforme nossos planos, iremos cair no pecado de dizer “esse ano já vai tarde!”. Mesmo se tivesse sido um ano terrível (como foi para muitos que perderam parentes pela pandemia ou por outras razões), a Esperança conforta nossa fraqueza e nos anima a continuar nossa vida.

Precisamos de Esperança todos os dias de nossas vidas e essa chama não pode ser apagada nunca! Isto não significa ser passivo ou masoquista diante dos sofrimentos, mas sim verdadeiros combatentes e portadores da Boa Nova de que Ele está no meio de nós e aguardamos fielmente Sua volta ou que Ele nos chame para junto Dele. Santo Agostinho diria: “Dá-me o que me pedes e pedes o que quiseres.”, assim estamos aceitando tudo que nos é exigido e compreendendo que, mesmo nas dificuldades, tudo é Graça de Deus e que Ele pode prover os maiores bens dos maiores males.

Que tenhamos uma Esperança firme e confiante. Que neste ano que se inicia, possamos agradecer e louvar a Deus por tudo, principalmente pelas dificuldades. Que sejamos pacientes e fortes nas tribulações, para que unindo tal sofrimento à Cruz do Senhor, possamos também nos unir à Sua Ressureição. Que tenhamos um 2022 santo e abençoado!

De um católico qualquer,
Gabriel Bondioli Piterutti


Um ano sem condições - UCQ
A foto que escolhi: Que possamos manter acesa a chama da Esperança em nossos corações.
Anterior EP 35: Uma noite fria e escura
Próximo EP 37: Até logo